Tecnologia é a arma secreta da Apple, não o design!
Estrearei minha coluna aqui na INFO escrevendo sobre um tema que faz parte de minha vida e que acredito esteja sendo, equivocadamente…
Estrearei minha coluna aqui na INFO escrevendo sobre um tema que faz parte de minha vida e que acredito esteja sendo, equivocadamente, menosprezada no design moderno de produtos, a tecnologia.
Nos últimos 30 anos empresas como a Apple nos mostraram uma maneira
nova de desenvolver produtos de consumo como computadores e telefones. O grande diferencial nos produtos da Apple é, sem dúvida nenhuma, o design de seus produtos que é, notadamente, superior ao design dos concorrentes. Muito chegam a dizer que a Apple é uma empresa de design e não uma empresa de tecnologia. E é ai que uma meia verdade (sim, a Apple é uma empresa de design) não pode ser uma verdade completa e leva a um entendimento equivocado da realidade.
O equívoco acontece ao entender que o design da Apple é seu diferencial
mais importante, deixando a tecnologia em segundo plano. Para entender
o que quero dizer usarei um famosa citação do Jobs onde ele dizia que
“design não é apenas como algo parece ou sente, mas sim como algo
funciona”. Isto muda, fundamentalmente, a perspectiva, já que o “como
funciona” é totalmente dependente de tecnologia. E, neste ponto, a Apple é
novamente genial, pois se partindo de como a coisa deve funcionar o
trabalho da engenharia e da pesquisa é tornar aquilo uma realidade,
escondendo toda a complexidade tecnológica do usuário final. Deste
modo, a Apple continua sendo uma empresa de tecnologia e, também, de
design.
Se nos perguntamos ao observar um produto da Apple o porquê que uma determinada funcionalidade é superior à do concorrente ou como
é que determinada característica mágica de seus produtos é possível,
perceberemos que a resposta é sempre a tecnologia embarcada no
produto. A resposta ao toque do iPhone e do iPad é sensivelmente melhor
do que a dos concorrentes, devido a toda a tecnologia embarcada no
dispositivo na forma de software, eletrônica e materiais especiais. E, cada
um destes detalhes foi otimizado à perfeição. O corpo de alumínio dos
MacBooks e até mesmo o famoso vidro, quase indestrutível dos iPhones
conhecido como “Gorilla Glass”, são frutos de anos e anos de pesquisa em
tecnologia de produção. E, se observarmos mais de perto, com exceção de
suas carcaças elegantemente desenhadas, a alma dos produtos da Apple
é o software que está embarcado em cada um deles. Software este que tem o importante papel de garantir que o “como funciona” que o designer
pensou seja uma realidade.
E, para azar dos concorrentes, se por um lado é relativamente fácil copiar o
design físico de um produto da Apple (vá até uma loja de celulares e vejam
quantos deles são facilmente confundidos com um iPhone), é
absurdamente mais complexo reproduzir a maneira com que eles
funcionam. Ou seja, a visão do Jobs de um design mais holístico que
considera não só a forma, mas também a mecânica de funcionamento se
mostrou uma importante ferramenta estratégica. Barreiras de entrada
baseadas em tecnologia são, normalmente, mais sustentáveis e difíceis de
serem rompidas. E, além disto, apesar de toda a controvérsia sobre o
assunto, elas podem mais facilmente ser protegidas por patentes.
Um reflexo disto é a maneira com que a Apple investe, agressivamente,
em se apoderar de maneira, preferencialmente, exclusiva, mesmo que por
apenas alguns anos de determinadas tecnologias que poderão ser
utilizadas em seus futuros produtos.
Ao identificar uma tecnologia, potencialmente, importante para um futuro produto, a Apple chega algumas vezes a financiar a construção das primeiras plantas de produção ou o desenvolvimento em escala daquela tecnologia em troca de ter acesso facilitado e exclusivo quando elas estiverem disponíveis. Mais uma vez a concorrência fica a ver navios. Eles observarão um novo produto chegando às prateleiras com incríveis novas funcionalidades, mas que estarão a alguns anos de distância de seus próprios produtos.
É desta maneira que acredito que na batalha por produtos e serviços cada
vez mais digitais, as empresas vencedoras serão as que entenderem o
real papel e a importância da tecnologia no campo de batalha dos
negócios.
E assim encerro a primeira edição desta coluna que tratará do tema
tecnologia nos negócios. Espero que gostem e me enviem seus
comentários, críticas e sugestões através da página oficial da coluna no
Facebook (http://facebook.com/biztech_by_mlemos).
Artigo publicado originalmente na edição de Julho de 2015 da Revista INFO e republicado aqui com a permissão da Editora Abril.