Quer ter um gadget diferente? Então faça você mesmo.
Quantas vezes não desejamos produtos com a nossa cara e que tivessem tudo o que queríamos? Muitas, mas eles não estão nas prateleiras das…
Quantas vezes não desejamos produtos com a nossa cara e que tivessem tudo o que queríamos? Muitas, mas eles não estão nas prateleiras das lojas e sim sendo construídos nas bancadas de fazedores no mundo todo.
Me lembro bem de, durante minha infância, querer que meu computador pessoal, um CP-400 Color II, interagisse com o mundo a minha volta. Que ele discasse números no telefone ou que reagisse se a luz de meu quadro acendesse. Nesta mesma época eu vivia lendo revistas de eletrônica e tentando construir alguns circuitos que, na maioria das vezes, nem funcionavam. Mas, juntando a curiosidade de uma criança, com alguns dos conhecimentos que adquiri naquelas revistas tentei resolver o problema. Para controlar o telefone utilizei um dos cabos que o CP-400 utiliza para controlar o gravador de fitas K-7 onde seus programas eram armazenados. Com um pequeno program escrito em BASIC foi possível simular os pulsos de um telefone fazendo uma ligação. UAU!!! Depois foi a vez de utilizar um LDR — resistor sensível à luz — para fazer as vezes do controle de um dos eixos do joystick analógico que o CP-400. Quanto mais luz no quarto, mais para cima o joystick indicava. E, fazendo este tipo de coisa, passei boa parte de minha infância lá em Araguari. Claro, dali fui quase direto para a faculdade de Engenharia da Computação na UNICAMP, em Campinas. Uns 30 anos se passaram e, ainda hoje, passo o pouco tempo que me sobra entre o trabalho na Abril e a família fazendo projetos deste tipo.
Eu não sabia, mas milhares de outras pessoas no mundo todo desenvolviam este tipo de atividade muito antes de eu ter nascido. O fenômeno era ainda maior do que imaginava. Grupos de pessoas com os mais variados interesses se organizavam para construir, consertar e modificar coisas e para trocar conhecimento sobre seus projetos. De rádio amadores a computadores pessoais, de foguetes a robôs, de carpintaria a metalurgia, para qualquer tema existe um grupo de aficionados. Você pode chamá-los de hackers, makers, hobbistas ou simplesmente de fazedores. O que vemos é uma cultura moderna derivada da cultura faça-você-mesmo com pitadas fortes de tecnologia e engenharia. Olhando com cuidado, veremos que muitas das tecnologias que utilizamos hoje se popularizaram ou nasceram em grupos de fazedores. Este tipo de movimento tem uma ligação muito forte com o empreendedorismo e muitas de suas idéias viram produtos comerciais e seus praticantes viraram homens de negócio. Um bom exemplo foi o nascimento da Apple junto da comunidade de “construtores caseiros de computadores”, o Homebrew Computer Club, na California.
O legal é que o tempo passou e o fenômeno não morreu. Ele está ganhando cada vez mais força com a Internet e com a facilidade de se encontrar os conhecimentos e os equipamentos necessários para desenvolver suas idéias. A Internet está cheia de sites com muita informação sobre as mais diversas áreas. São tutoriais detalhados, documentação extensiva e muitos espaços para fazedores exibirem seus projetos. Um deles é o Instructables (http://www.instructables.com/), uma comunidade de fazedores com milhares de projetos postados por seus membros e com instruções de como reproduzi-los. Mas todo projeto vem com uma lista de materiais e a Internet também está cheia de lojas especializadas em atender este nicho. Meus preferidos são o Adafruit (http://www.adafruit.com/) e o SparkFun (https://www.sparkfun.com/). Neles, você encontras todas as ferramentas e componentes necessários para a maioria dos projetos. Tudo vem acompanhado de idéias para projetos e muito material educacional. Mas tome cuidado com seu bolso, pois a coisa é realmente viciante.
Falando em bolso, vimos que fazer coisas pode ser um bom caminho para o surgimento de novos negócios. E tem muita gente embarcando nesta e construindo os mais variados gadgets no fundo de suas casas e sonhando em transformar seus hobbies em um lucrativo negócio. E a Internet novamente está ajudando a juntar a fome com a vontade de comer. Nos últimos anos surgiram várias plataformas de financiamento colaborativo ou crowdfunding como o americano Kickstarter (http://www.kickstarter.com/) e o brasileiro Catarse (http://catarse.me/) onde inventores podem tentar financiar seus projetos para doadores e futuros compradores. O processo todo é bem simples. O inventor publica o projeto no site, diz quanto precisa de dinheiro e cria diversos pacotes de colaboração. Cada pacote dá direito a quem doou o dinheiro a algum mimo. Pode ser desde ter seu nome citado como um suportador do projeto ou até mesmo receber o produto em primeira mão logo que ele estiver finalizado. Muitos projetos chegam a receber muito mais dinheiro do que previram e isto acaba se tornando um grande problema, mas vários outros se tornam verdadeiros sucessos e dão origem a novas empresas super inovadoras.
E ai? Será que não é hora de tirar aquela velha idéia do papel?
Artigo publicado originalmente na edição de Novembro de 2013 da Revista INFO e republicado aqui com a permissão da Editora Abril