Que tal um micro mil vezes mais rápido?
Seu presente de natal será um computador 1.000 vezes mais rápido!
Seu presente de natal será um computador 1.000 vezes mais rápido!
Não, eu não estou falando de supercomputadores ou de clusters computacionais espalhados pela nuvem. Eu estou falando de seu computador pessoal, seu notebook ou até mesmo seu novo celular, comprados em qualquer loja do ramo e custando o mesmo preço que seu atual computador. O que eu ainda não disse é que estamos falando do Natal de 2026, daqui há 15 anos.
A princípio isto não parece grande coisa, mas foi este tipo de crescimento da capacidade computacional nas últimas quatro décadas que permitiram que tenhamos dispositivos eletrônicos como os que usamos todos os dias. Em 1965, Gordon Moore, um dos fundadores da Intel, fez uma observação em um artigo que dizia que “o número de transistores incorporados em um chip quase dobrará a cada vinte e quatro meses”. Esta previsão acabou cunhada na indústria como a “Lei de Moore”.
“O número de transistores incorporados em um chip quase dobrará a cada 24 meses.” — Gordon Moore
Mas como a “Lei de Moore” se conecta com a velocidade de nossos dispositivos eletrônicos? Transistores são a peça fundamental em qualquer circuito eletrônico, seja um sofisticado processador de computador ou um simples chip de memória. Quanto mais transistores, mais capacidade de processamento. Ou seja, segundo a “Lei de Moore” teremos computadores duas vezes mais rápidos a cada dois anos. Porém, observando medições feitas nas últimas décadas observamos que a velocidade é ainda maior, a capacidade está dobrando a, aproximadamente, cada dezoito meses. E mais, ela se aplica a quase tudo que é eletrônico, à capacidade de processamento, à capacidade de armazenamento e até mesmo à velocidade das conexões.
Antes de falarmos do futuro, vamos fazer uma rápida observação do que tínhamos há 15 anos. Em 1996 a maior velocidade de conexão a Internet que poderíamos ter em casa era conseguida com os famosos modems V.90 com velocidade de 56,6 kbit/s (mil bits por segundo) e o disco de computador de maior capacidade tinha meros 1,6 gigabytes (bilhões de bytes). Hoje, podemos ter conexões de banda larga de 50 Mbit/s (milhões de bits por segundo) e discos de 2 terabytes (trilhões de bytes). Veja, são mil vezes mais capacidade em 15 anos. E esta evolução deve continuar a existir — sem que a tecnologia mude drasticamente — pelas próximas duas ou três décadas (*). A mágica aqui é a matemática da exponenciação. Dobrando a cada 18 meses, em 180 meses — ou 15 anos — temos 10 ciclos. E com isto aproximadamente um crescimento de 1.000 vezes. Para ser mais exato temos 1.024 vezes mais capacidade (2 x 2 x 2 x 2 x 2 x 2 x 2 x 2 x 2 x 2 = 1,024). E nos próximos 18 anos, um milhão de vezes mais capacidade.
(*) Oops! Pode ser que não seja bem assim. Existe muita discussão sobre os limites teóricos, técnicos e econômicos da Lei de Moore. Alguns dizem que estamos bem próximos do limite, outros que ainda observaremos este tipo de comportamento até 2025 e, uns poucos, que ela inda poderá seguir por centenas de anos. Enquanto isto a indústria de semicondutores trabalha arduamente para expandir a vida útil da Lei de Moore por mais tempo. — Este trecho não fazia parte do artigo original. ;-)
Mas por que esta fixação com as implicações da “Lei de Moore”? Bom, foi graças a este tipo de crescimento que temos hoje um notebook de R$2.000,00 capaz de armazenar 1 Terabyte de informações e realizar 30 bilhões de cálculos por segundo, video games capazes de processar gráficos super realistas na incrível velocidade de 500 milhões de polígonos por segundo e telefones celulares capazes de reconhecer comandos de voz e toques na tela com incrível precisão. Na realidade, os impactos são ainda mais profundos. Tudo que utiliza algum tipo de processamento eletrônico digital goza dos mesmos benefícios e isto muda tudo a nosso redor. Eletrônica, computadores e softwares mais velozes permitem que tenhamos modelos de previsão meteorológica mais precisos, sistemas de diagnóstico por imagem mais acessíveis, terapias genéticas que cabem no bolso e comunicação em tempo real em qualquer lugar. Se a necessidade não é de mais capacidade e sim de menor tamanho ou menor custo, a “Lei de Moore” também se aplica e podemos ter dispositivos cada vez menores e mais baratos e, novamente, os impactos em nossas vidas são tremendos. Casas inteligentes, cartões de crédito com chips de computador, câmeras digitais cada vez menores e mais leves, carros conectados e aparelhos auditivos mais sensíveis e inteligentes.
Como o ano está acabando, encerrarei o artigo fazendo um convite e deixando um desejo. O convite é para que pensem no que virá pelos próximos 30 anos e em quão profundos serão os impactos da evolução tecnológica em nossas vidas nestes tempos exponenciais. Tenho certeza de que estaremos vivendo os trinta anos mais excitantes da humanidade. E meu desejo é o de que tal evolução resulte em mais acesso à informação para as comunidades que podem fazer bom uso dela, em uma transformação da educação através do uso inteligente da tecnologia, e em uma revolução na medicina deixando a mesma mais humana, acessível e menos invasiva. Por fim, desejo que tanta tecnologia em nossas vidas deixe tudo mais fácil e que sobre mais tempo para curtirmos as coisas boas da vida. Um super final de ano para vocês!
Artigo publicado originalmente na edição de Dezembro de 2011 da Revista INFO e republicado aqui com a permissão da Editora Abril.