Precisamos de novas interfaces. Que venham os computadores vestíveis!
As limitações das atuais interfaces computacionais estão dando origem a uma nova classe de dispositivos que podem mudar completamente como…
As limitações das atuais interfaces computacionais estão dando origem a uma nova classe de dispositivos que podem mudar completamente como interagimos com computadores.
No mês passado assistimos a mais um episódio da guerra das plataformas móveis com o lançamento de dois novos modelos de Apple, o iPhone 5S que é modelo mais sofisticado e o iPhone 5C que é seu primo mais pobre e colorido. Porém, diferentemente do que aconteceu quando Steve Jobs apresentou o primeiro iPhone ao mundo, não vimos nenhuma grande inovação acontecer. Vimos inovações incrementais serem adicionadas como mais capacidade de processamento, uma câmera mais poderosa e uma interface visual totalmente remodelada com o novo iOS7. A novidade ficou mesmo por conta do scanner de impressão digital que traz várias novas possibilidades, mas que teve sua segurança quebrada em menos de uma semana do lançamento. Porém, o paradigma computacional continuou o mesmo. O mesmo formato e as mesmas limitações. E claro, isto não é um problema, não é só de inovações disruptivas que o mundo e o mercado vivem.
O que é engraçado é que, antes do iPhone estabelecer um novo marco no mundo dos dispositivos móveis, a variedade de conceitos era até maior do que a que temos hoje. Dispositivos com diferentes formatos, com uma tela, com duas telas, com a forma de video-game (alguém se lembra do Nokia N-Gage?), com teclados diferentes, com luzes ao redor do aparelho e nas mais variadas cores e formas. Bom, hoje podemos dizer que o design dominante é o de um barra retangular e fina feita de vidro, plástico e metal, onde quase todos os smartphones parecem exatamente iguais quando vistos de longe. E o pior, já faz alguns anos que estamos parados neste paradigma.
A competição se concentrou em aumentar cada vez mais a capacidade de processamento dos dispositivos e o tamanho do display virou um dos principais argumentos de venda e de diferenciação (e podemos dizer que a Samsung entendeu bem este ponto). A questão é que existe um limite para o tamanho e a resolução das telas. Elas nem podem crescer indefinidamente (pois seria bem estranho tirarmos um celular de 9 polegadas do bolso) e também não existe vantagem nenhuma em uma densidade de pixels maior do que o olho humano pode enxergar. Bom, é aqui que vemos uma motivação enorme para o surgimento de novos paradigmas para a interface entre estes dispositivos e nós, os usuários.
A existência de limitações no design das interfaces que temos utilizado para interagirmos com nossos dispositivos é a grande motivação para o surgimento de uma nova categoria de dispositivos, os “wearable computers” (computadores vestíveis). Ainda estamos bem no começo desta nova onda e talvez o termo vestível nem seja o que melhor representa os novos paradigmas de interação que estão nascendo, mas a realidade é que as possibilidades são quase infinitas. Se pararmos para pensar um pouco é fácil identificar situações onde a interação como nossos atuais gadgets não é a melhor possível ou a mais natural. Para começar, imaginem as inúmeras vezes que temos que procurar o celular em nosso vários bolsos ou bolsas para verificar se aquele beep ou vibrada era de algo importante para nós naquele momento ou não. Além de encontrar o dispositivo também tivemos que destravá-lo, verificar do que se tratava, travar novamente e retorná-lo para o local original. E se estas informações estivessem a nossa disposição de maneiras mais naturais como em um relógio conectado, um óculos como o Google Glass, na tela de nosso próprio computador, no painel do carro ou até mesmo em nossas roupas? Quase tudo isto já é possível de acontecer com produtos que já estão ou estão chegando às prateleiras neste momento como o relógio conectado Peeble, os óculos do Google e os carros que contam com este tipo de sistemas.
Mas, e se começarmos a pensar em possibilidades ainda mais interessantes e incomuns. E se nosso cinto pudesse nos passar uma informação táctil de para qual direção devêssemos caminhar para encontrar aquele amigo ou restaurante que estamos procurando? E se a roupa de um mergulhador pudesse reagir de acordo com perfil de mergulho, evitando que ele tome direções que possam comprometer a segurança de sua atividade? Isto criaria uma infinidade de novos usos para o que estamos chamando de computadores vestíveis e que trariam também novos paradigmas computacionais.
Estamos no momento em que muitas destas idéias começam a se transformar em realidade e em que a tecnologia está evoluindo rapidamente para possibilitar aplicações ainda mais interessantes. Mais tarde, num segundo momento, veremos algo ainda mais transformador acontecer quando algumas destas invenções se tornarem realmente presentes em nossas vidas e padrões de integração começarem a aparecer. Veremos então o nascimento de ecossistemas que integrarão tudo e aumentarão ainda mais o impacto destes novos paradigmas em nossas vidas. É hora de torcer para que as baterias também evoluam e não sejam apenas mais peso para ser carregado. ;-)
Artigo publicado originalmente na edição de Outubro de 2013 da Revista INFO e republicado aqui com a permissão da Editora Abril