Por que a questão da vigilância é tão importante?
Fantasmas de vigilância total de nossas vidas sempre existiram, mas agora eles são mais reais e assustadores do que nunca.
Fantasmas de vigilância total de nossas vidas sempre existiram, mas agora eles são mais reais e assustadores do que nunca.
Este assunto tomou conta do noticiário e das redes sociais depois que o ex-Analista da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Edward Snowden, publicou documentos sobre um sofisticado e agressivo programa de vigilância eletrônica chamado de PRISM. Segundo ele, o programa que existe desde 2007 e conta com a participação de algumas das principais empresas de Internet do planeta, permitindo que se obtenha informações sobre os usuários dos serviços destas empresas a qualquer momento e até mesmo a captura em tempo real das comunicações dos mesmos.
Estamos falando de serviços que bilhões de usuários utilizam todos os dias para armazenar suas fotos, comunicar com seus amigos, fazer ligações telefônicas e até mesmo para enviar e receber seus emails. Enquanto escrevo este artigo, as últimas notícias são de que Snowden se encontra há dias no aeroporto de Moscou a espera de resposta por seus pedidos de asilo. As empresas envolvidas negam a participação no programa e Snowden é considerado um herói por alguns e um traidor por outros. O caso ainda está quente e deve continuar provocando uma importante discussão no mundo sobre a garantia da privacidade e de direitos fundamentais para as pessoas.
Mas nossa conversa hoje será sobre o quão relevante é a questão da vigilância eletrônica para nossas vidas. Basta parar por alguns minutos e observar a quantidade de informações pessoais que deixamos, voluntaria ou involuntariamente, ao longo do dia nos diferentes serviços e dispositivos que utilizamos para as mais corriqueiras atividades.
Eu me considero uma pessoa, razoavelmente, preocupada com a privacidade de minha família e tenho relativos conhecimentos sobre segurança digital, mas mesmo assim é fácil espalhar informações pelo mundo digital que eu preferiria que continuassem restritas.
Acabamos de retornar de uma semana de férias e, ontem mesmo, percebi que estava publicando fotos num grupo de discussão sobre eletrônica que continham a localização exata de onde moro. Isto aconteceu porque logo que saímos de São Paulo e partimos para o norte do país, resolvi ligar a funcionalidade que marca as coordenadas geográficas de onde estou, nas fotos que tirar com meu smartphone. Fiz isto porque queria saber exatamente de onde aquelas fotos eram. Porém, quanto voltamos à São Paulo, esqueci de desligar a tal funcionalidade e tirei algumas fotos aqui em casa. Estas fotos foram, automaticamente, armazenadas numa rede social onde discuto alguns projetos sobre monitoração de energia e, então, percebi que elas estavam marcadas em um mapa com um alfinete bem em cima de minha casa. Por sorte, eu ainda não havia compartilhado as fotos e já havia desligado nas configurações da rede qualquer a publicação de qualquer informação geográfica. O ponto é que isto é apenas um dos milhares de caminhos para a captura e divulgações de informações pessoais de forma involuntária — por desatenção ou desconhecimento — aos quais estamos expostos. Isto sem contar que a grande maioria das pessoas sequer está ciente de que isto pode acontecer.
Mas isto é apenas a ponta do iceberg. Em um dia, nossos dispositivos e o smartphone é o mais quente de todos, sabem praticamente tudo o que fazemos. Desde o momento em que acordamos e pegamos o celular para checar as primeiras mensagens do dia, até o caminho que utilizamos para chegar até o trabalho, com quem falamos durante o trajeto e, porque não, o que falamos durante o trajeto, quais músicas escutamos, nossa agenda de compromissos para o dia, os emails de trabalho trocados durante o dia, as notas de reunião, os torpedos para amigos e a família, o que procuramos na Internet, o que lemos na web, as fotos que tiramos de nossos filhos quando chegamos em casa, a situação de nossas finanças e as contas que pagamos através do home banking, quantas calorias queimamos na esteira e até mesmo que horas nos desligamos de tudo isto para dormir. E este é apenas o lado que controlamos desta vida conectada.
Agora, imaginem todas estas informações sobre você durante todos os dias dos últimos cinco anos nas mãos de estranhos. E não estou falando de “estranhos” que nós mesmo aceitamos em nossas redes sociais, mas de gente que nem imaginamos que podem ter acesso a estas informações. A questão é que é praticamente impossível ter certeza de que estes dados estão seguros e respeitando nossos controles. A mágica destes dispositivos e serviços depende de uma série de participantes que controlam pedaços da coisa toda. Os fabricantes dos dispositivos, os desenvolvedores dos sistemas operacionais e das aplicações que utilizamos, as empresas de telecomunicação que usamos para enviar e receber informações e os serviços na rede que armazenam todas as informações e coordenam as atividades. A realidade é que, simplesmente, confiamos nestas empresas, mas não temos como saber o que acontece por trás das cortinas. Mesmo que nos cerquemos de mecanismos de proteção é praticamente impossível garantir que estamos 100% seguros. Mas sobre isto falaremos na próxima edição. ;-)
Artigo publicado originalmente na edição de Agosto de 2013 da Revista INFO e republicado aqui com a permissão da Editora Abril