Innovation Pains — É preciso olhar além do que os olhos vêem
Estamos passando por transformações tão grandes com a chegada de inúmeras inovações que é normal sentirmos as dores da mudança e até mesmo…
Estamos passando por transformações tão grandes com a chegada de inúmeras inovações que é normal sentirmos as dores da mudança e até mesmo reagirmos negativamente. Mas é preciso olhar além do que os olhos vêem.
Se existe uma coisa que nosso cérebro não gosta, esta coisa se chama mudança. Nem sempre percebemos isto, mas a realidade é que para nosso cérebro mudar dói e estamos, o tempo todo, lutando contra mudanças de todos os tipos. Algumas vezes conscientemente e muitas outras de maneira inconsciente. Ou será que foi conscientemente que não segui meus planos para perder peso hoje? E inovação, em minha definição preferida, está totalmente conectada a fazer algo de maneira diferente. Segundo o Prof. Michael Schrage do MIT, “inovação é transformar novidade em valor através do uso”. Então, forçando a barra um pouquinho, podemos entender que inovação vem da novidade, que é fazer algo de outro modo, que é mudar e que isto é doloroso. E se é doloroso, nós resistimos!
Com esta linha de pensamento podemos entender um monte de reações que estamos vendo todos os dias onde pessoas, empresas, comunidades e até mesmo governos estão resistindo veementemente — e quase sempre emocionalmente — à gigantesca onda de inovações que estamos experimentando nos últimos anos. Vamos pensar por exemplo no caso dos recentes protestos contra o aplicativo Uber em vários lugares do mundo e também aqui no Brasil. A reação é natural e justificada por parte dos taxistas, seus sindicatos e cooperativas . Eles são diretamente afetados com a chegada de um novo jogador que joga com regras bem diferentes das vigentes. Tão diferentes que chegam, em alguns casos, a serem consideradas ilegais. Bom, esta discussão vai acontecer por algum tempo, hora pesando para um lado e hora para o outro. Os argumentos passarão por concorrência desleal, por questões de segurança, pela qualidade do serviço prestado, pelo estado dos veículos, pelo preço e tudo mais. E, espero, que ela siga seu curso com a adaptação das regras de modo a suportar de maneira legal as duas modalidades de serviço, permitindo a competição de maneira razoável, sem onerar o usuário final e garantindo que as inovações possam florescer e melhorar nossas vidas. Mas é preciso pensar além disto!
É preciso pensar além das reações iniciais e das reclamações superficiais. É preciso olhar as consequências de segundo e terceiro graus. É preciso pensar nos efeitos de médio e longo prazo. Nesta leva de outros pontos a serem considerados devemos incluir: Quantas novas posições de trabalho foram criadas? Quantas pessoas deixaram seus carros em casa para usar o serviço? Qual o efeito no trânsito de menos carros circulando? Quantas vagas de estacionamento foram liberadas? E, até mesmo, quantos acidentes foram evitados com menos adolescente dirigindo embriagados? Não posso negar que estes números não apareceram de imediato e que não são simples de se calcular. Estes impactos sociais devem ser levados em consideração e colocados na balança para entendermos qual o saldo final daquela inovação. E vejam que nem estou tocando no tema dos benefícios para o usuário final. Sobre estes últimos direi apenas que “se você plantar ineficiências, colherá disrupção”, como gosta de dizer o meu seu sócio Anderson Thees.
Este modelo não se restringe ao caso do Uber, e deve ser aplicado a todas as transformações que estamos vivendo com a chegada de soluções inovadoras. Ele deve ser utilizado para proporcionar uma discussão mais profunda sobre os modelos negócios, as organizações do trabalho e as regulamentações sendo desafiadas. Afinal, se a simples existência de um modelo de negócio corrente e um corpo regulatório vigente servirem de razão para se bloquear o curso natural da evolução, deveríamos voltar a andar de charretes e carruagens e reestabelecer algumas grandes atrocidades do passado.
Como na prática de exercícios físicos ou na mudança de velhos hábitos, precisamos nos motivar com os efeitos a longo prazo e, também, os efeitos indiretos para passarmos por cima da dor e da resistência à mudança. Só assim colheremos os frutos do esforço em mudar. Inovar dói, mas é bom para você!
Artigo publicado originalmente na edição de Maio de 2015 da Revista INFO e republicado aqui com a permissão da Editora Abril.