Disrupção a frente
Inovações disruptivas continuam mudando de maneira profunda e definitiva várias indústrias. Vejam algumas que estão neste caminho e…
Inovações disruptivas continuam mudando de maneira profunda e definitiva várias indústrias. Vejam algumas que estão neste caminho e descubra porque isto é bom!
Há algumas semanas estive na California e tive a oportunidade de ir a um dos eventos mais badalados do mundo da tecnologia e das startups, o Techcrunch Disrupt em San Francisco. Nele, centenas de hackers, empreendedores, investidores, especialistas e curiosos se encontram para falar por três dias das startups mais quentes do momento e que sonham em se tornar os próximos Google ou Facebook. Seus fundadores, com o pitch super ensaiado, deixam claro o desejo e audácia de serem disruptivos em suas indústrias. Poucos conseguirão! Mas o que é isto que temos chamado de disrupção e por que temos falado tanto disto?
O pai do conceito de disrupção tecnológica, Clayton Christensen, descreve o fenômeno como “o processo que se inicia quando um novo produto ou serviço nasce e passa a atender — ser usado, adotado ou aplicado — a base de um mercado e passa a atacar continuamente os segmentos superiores substituindo, eventualmente, os líderes já estabelecidos naqueles segmentos”. A história não é nova e não é a primeira vez que falamos disto aqui. O que é interessante, fora o fato de continuamos a observar indústrias inteiras correndo sérios riscos de disrupção, sem saber como ou sem poder reagir, é que estamos vivendo um momento onde muita disrupção está acontecendo a nossa volta em produtos e serviços que usamos todos os dias. E este foi um dos temas mais interessantes no Techcrunch deste ano e que contou com o próprio Christensen numa discussão bem divertida.
Vejam, por exemplo, o que está acontecendo com a indústria da hotelaria com a chegada de players, como a startup AirBnB. A idéia nasceu quando seus fundadores decidiram alugar seu próprio apartamento para conseguir algum dinheiro. Ela evolui para um negócio que permitia que proprietários de casa e apartamentos disponibilizem seus imóveis ou mesmo apenas um quarto vago para viajantes em busca de hospedagem barata. Os viajantes encontravam lugares legais para ficar a um bom custo e os proprietários tinham acesso a uma nova fonte de receita. Até ai, nada para preocupar as grandes redes de hotelaria, já que apenas os viajantes mais apertados — que estavam dispostos a abrir mão de todos os serviços que até os hotéis mais baratos oferecem — usavam o serviço. Acontece que, aos poucos, os proprietários entenderam que poderiam oferecer imóveis maiores, amenidades para seus hóspedes e alguns serviços de valor agregado para os viajantes. Com isto a oferta foi, ao poucos e naturalmente, se sofisticando e ficando atraente para outros tipos de viajantes, inclusive os mais exigentes. Hoje, seis anos mais tarde, já são mais de 600.000 ofertas em 190 países e a startup recebeu seu último investimento de 475 milhões de dólares numa availiação — dita por alguns — da ordem de 10 bilhões de dólares. Para se ter uma noção, a rede de hotéis Hyatt tem o valor de mercado — na data de redação deste artigo — de 9.5 bilhões de dólares. E, para uma viagem que farei em março do ano que vem para o Texas já garantir minha hospedagem numa bela casa através do AirBnB.
Em alguns casos, a disrupção pode ser ainda mais brutal e a substituição dos líderes pode acontecer de maneira mais drástica. Você se lembra de quando usou pela última vez um serviço de rádio taxi? Ou enviou uma carta pelos correios? Ou foi até a locadora alugar um filme? Eu também não. E, no Techcrunch, vimos alguns sinais que podem indicar a chegada de ondas disruptivas bem fortes em indústrias gigantes e consolidadas como a saúde e a educação. Um exemplo fantástico foi a startup Theranos que vem com uma solução para democratizar o acesso a exames de laboratórios de qualidade para todos. Sua fundadora, Elizabeth Holmes, fundou a empresa há mais de 10 anos e ficou este tempo todo desenvolvendo a tecnologia que permite que centenas de testes de laboratório sejam feitos de maneira super econômica e rápida utilizando uma única gota de sangue e sem o uso das temidas agulhas. Segundo o site da empresa seu preço e sempre menos de 50% do que os praticados pelo mercado. A tecnologia é tão simples que eles estão levando seus centros de coleta para todas as lojas de uma das redes de farmácias mais famosas dos EUA. Imaginem o que isto pode significar para a atual e milionária indústria de exames.
Claro, os líderes atuais terão sempre os argumentos — já conhecidos de outros eventos — na ponta da língua: “Eles não servem para todos os consumidores. A qualidade é ruim. Em nossa indústria é diferente por isto e por aquilo. A legislação e os reguladores não irão permitir.” Foi assim com o PC, com o iPod, com o Netflix, com a Web e com fotografia digital. Mas a realidade é que mercados e usuários são impiedosos. Se é melhor para eles, eles mudarão e usarão! Viva a disrupção!
Artigo publicado originalmente na edição de Outubro de 2014 da Revista INFO e republicado aqui com a permissão da Editora Abril.