De volta aos átomos!
Nas últimas décadas vimos o surgimento dos computadores, a expansão da Internet, o sucesso da web e a digitalização de quase tudo, mas os…
Nas últimas décadas vimos o surgimento dos computadores, a expansão da Internet, o sucesso da web e a digitalização de quase tudo, mas os impactos da tecnologia não pararão por aqui. Daqui para frente veremos ondas de mudanças ainda mais drásticas atingindo o lado físico da economia e trazendo tudo o que aprendemos com a WEB para áreas ainda pouco transformadas como a indústria. É hora de fazer a volta dos bits ao átomos!
Fazendo uma história longa curta, podemos resumir as últimas cinco décadas da computação da seguinte maneira: durante os anos 70 criamos computadores e demos início a era da computação pessoal; nos anos 80 começamos a interligar estes computadores e criamos a Internet, a grande rede de computadores; nos anos 90 começamos a digitalizar documentos, colocá-los na Internet e conectá- los — na forma de páginas — criando a Web, a grande teia global; nos anos 2000 tornamos a web num grande espaço social criando as redes sociais e conectando as pessoas através delas; e, agora, nos anos 2010 estamos adicionando computadores a todas as coisas e conectando-as à Internet criando a Internet das Coisas. Basicamente, criamos toda uma infraestrutura digital, conectamos o planeta através dela, digitalizamos tudo o que pudemos — da mídia ao dinheiro à
educação — e aprendemos muito com a web ao criar aplicações que exploravam o poder dos bens digitais e a inteligência das multidões através de inovadores modelos de negócio. E hoje estamos trazendo tudo isto para as coisas físicas de nosso dia-a-dia.
Os impactos até agora foram tremendos e se aceleraram bastante nos últimos 30 anos. Acelerados pela natureza exponencial das tecnologias digitais suportadas pela “Lei de Moore” vimos um crescimento de capacidade da ordem de milhões de vezes. Neste contexto indústrias inteiras viram seus modelos de negócios virados de cabeça para baixo como foi o caso da mídia e do entretenimento. Outras, como a educação e a os serviços financeiros, seguem pelo mesmo caminho. O motor, neste caso, é a digitalização dos meios. Ou seja, a transformação de instrumentos físicos — revistas, livros, moedas e salas de aula — em digitais. São átomos se transformando em bits. Porém, tudo que é feito de bits possui propriedades fundamentalmente diferentes e que permitem coisas que antes não eram possíveis. Copias de objetos digitais são sempre perfeitas e realizadas com custo desprezível, bens digitais não gastam ou deterioram com o uso. E para completar, eles quebram nossos antigos paradigmas de tempo e espaço. Enviar um documento digital para o outro lado do mundo acontece de maneira quase que instantânea, podemos armazenar bibliotecas inteiras em nossos bolsos e estudantes Indianos podem ter acesso gratuito ao ensino de instituições de ponta como Harvard ou MIT sem sair de suas casas.
Os efeitos econômicos foram gigantescos e vimos empresas de tecnologia como Apple, Google e Microsoft dominarem as listas de maiores empresas do mundo. Porém, qual é o real tamanho da economia digital quando comparada com a parte da economia que ainda não foi atingida por estas ondas de inovação tecnológica?
Segundo um estudo de 2011 do Citibank e Oxford, a economia digital representa apenas 14% da economia global. Ou seja, ainda temos 74%
para serem impactados e é neste restante que se encontram os segmentos mais físicos da economia como a indústria, a construção civil e a indústria dos
transportes. É na economia física que a coisa ficará interessante com os novos
rumos que a tecnologia está tomando numa jornada de volta aos átomos. Nesta volta aos átomos podemos destacar três frentes de evolução: a Fabricação Digital onde processos produtivos industriais passam a ser realizados de maneira cada vez mais automatizada e acessível; a explosão da Robotização com a chegada de robôs a nossas casas e trabalhos; e a expansão da Internet das Coisas tornando objetos comuns em elementos ativos e inteligentes.
Enquanto que na primeira ondam estávamos restritos ao que podia acontecer
dentro dos computadores e dos ambientes virtuais, estas inovações são profundamente transformadoras pois atuam no mundo físico e em nosso
cotidiano. A Fabricação Digital com tecnologias como impressão 3D permite que a Indústria possa trabalhar na velocidade da web e nos modelos que causaram a disrupção da mídia tradicional. Engenheiros podem desenhar uma nova através de ferramentas digitais nos Estados Unidos, gerar um protótipo instantaneamente numa impressora 3D na Alemanha e disparar a fabricação através de robôs na China. Robôs na forma de carros autônomos — como o do Google — e aspiradores de pó como o Roomba começarão a se tornar peças comuns em nosso cotidiano. E a evolução neste aspecto é fantástica. Em 2004 todas as equipes que participam do DARPA Challenge para criar um veículo autônomo que percorresse 240 km no deserto do Mojave falharam. Hoje o carro do Google já completou mais de um milhão de quilômetros rodados sem acidentes nas ruas e rodovias do Vale do Silício. Veremos robôs realizados tarefas cada vez mais complexas e com as vantagens digitais. O conhecimento digital de um robô é simplesmente copiável de maneira perfeita e instantânea para outro robô evitando custosos treinamentos e longos aprendizados. E por fim, objetos ordinários como cadeiras, mesas, calçados e roupas passarão a possuir fantásticas habilidades quando dotados de computadores embarcados e conectados à Internet. Sua cadeira poderá auxiliar na manutenção de sua postura e identificar potenciais problemas em sua coluna. Uma camiseta monitorará o sinais vitais de um atleta e enviará todos os dados para seu treinador. E nossas casas nunca mais serão as mesmas quando conscientes de como estamos usando cada dependência através de dezenas de sensores.
É hora de apertar os cintos, se preparar para grandes emoções e mudanças
drásticas nos cenários econômicos e em nossas vidas. Uau!
Artigo publicado originalmente na edição de Março de 2014 da Revista INFO e republicado aqui com a permissão da Editora Abril.