Crowdfunding — muito além do financiamento coletivo
O surgimento dos sites de crowdfunding trouxeram uma alternativa super interessante para o financiamento de projetos. Mas seus usuários…
O surgimento dos sites de crowdfunding trouxeram uma alternativa super interessante para o financiamento de projetos. Mas seus usuários estão conseguindo muito mais do que dinheiro nestas plataformas.
É bem provável que você já tenha ouvido falar de sites como Kickstarter, IndieGoGo e Catarse. Estas são as mais badaladas plataformas de crowdfunding gringas e do Brasil e foram responsáveis pelo financiamento de alguns dos projetos mais falados do ano passado, como o relógio inteligente Pebble e os óculos de realidade virtual Oculus Rift. A idéia é bem simples, quem tem um projeto e precisa de financiamento cria uma campanha num destes sites explicando o que é o projeto, definindo quando dinheiro ele necessita e quais os prêmios para quem apoiar o projeto. Com isto a campanha se inicia e os apoiadores podem se comprometer a ajudar em troca dos prêmios que vão desde coisas mais simbólicas como ter seu nome citado pelo projeto até ter acesso em primeira mão ao que está sendo financiado. Isto pode ser assistir a estréia de uma peça teatral, receber as faixas de um albúm de música ou até mesmo uma ou mais unidades de um gadget que será fabricado. Em casos de colaborações excepcionais os prêmios pode ser igualmente incríveis, como receber versões limitadas e personalizadas dos produtos ou conhecer a equipe que do projeto. Em geral as campanhas rodam por um período limitado de 30 dias, podendo varias de uma plataforma para outra, e são regidas pela sistema Tudo-ou-Nada. Neste sistema o dinheiro dos apoiadores só é cobrado pelo site e entregue para os criadores do projeto se a meta de financiamento for atingida. Caso contrário os criados do projeto não recebem nada e os apoiadores também não precisam dispor de sua grana. Além de ser uma bela alternativa para quem quer financiar um projeto, o crowdfunding tem algumas vantagens sobre os métodos tradicionais de financiamento. Não existe a cobrança de juros e nem a necessidade de se abrir mão de participação no projeto em troca do financiamento.
Mas muita gente tem tirado muito mais dos sites de crowdfunding do que apenas grana para seus projetos. Pela natureza de seu funcionamento as plataformas de crowdfunding são excelentes para validar idéias e fazer as vezes de custosas e potencialmente imprecisas pesquisas de mercado. Ao lançar a campanha de um projeto o mecanismo Tudo-ou-Nada financiamento funciona como um rápido e eficiente teste de mercado. O projeto só conseguirá ser financiado se conseguir comprovar a existência de demanda para ele. É meio óbvio, como a maioria dos prêmios para um apoiador do projeto é na realidade acesso ao que está sendo desenvolvido, o que temos é quase uma venda antecipada antes mesmo da coisa existir ou estar pronta para ir para as prateleiras. Se não houverem apoiadores suficientes é bem provável que o produto não teria apelo de mercado quando estivesse pronto. Neste caso os donos do projeto não recebem o financiamento, mas também evitam de ter que desenvolver o projeto para saber se ele seria aceito ou não. Todo mundo sai ganhando.
Outro fenômeno interessante é o efeito do crowdsourcing no marketing do projeto. Ao se tornar apoiador de um projeto, esta se declarando interessado pelo mesmo. Logo, é importante que a campanha atinja seu objetivo de financiamento para que os donos do projeto recebem o dinheiro e possam produzir o projeto. Caso contrário, eles não recebem a ajuda, o projeto não é desenvolvido e os apoiadores, apesar de não precisarem desembolsar sua ajuda, não recebem os prêmios. Isto cria um incentivo para que os apoiadores de um projeto façam a divulgação da campanha e busquem novos apoiadores. No fundo, além do financiamento coletivo, também temos um modelo colaborativo e — espontâneo neste caso — de divulgação do projeto. A publicidade acaba saindo de graça e super segmentada já que é bem provável que os apoiadores de um projeto conheçam outras pessoas com gostos semelhantes e que tem mais chances de se interessar por ele. De novo, todo mundo sai ganhando.
Claro, nem só de boas notícias vive o crowdfunding e existem inúmeras histórias de problemas e polêmicas em torno deste tema, mas isto já é outra história. E ai, animou a colocar aquela idéia de pé?
Artigo publicado originalmente na edição de Novembro de 2013 da Revista INFO e republicado aqui com a permissão da Editora Abril