Crise de Identidade no Mundo Digital
Identidade é um direito fundamental: sem ela, perdemos capacidade de expressão, de acesso a serviços públicos, do usufruto de outros…
Identidade é um direito fundamental: sem ela, perdemos capacidade de expressão, de acesso a serviços públicos, do usufruto de outros direitos e de seguir em frente com nossas vidas de forma plena.
Você já parou para pensar sobre a quantidade senhas que você mantém para acessar serviços e apps todos os dias? E-mail pessoal e profissional, redes sociais, apps de bancos, de mensagens, de música, de táxi, de filmes, de pedir comida, de comprar ingresso para o cinema, etc. É uma lista enorme. Eu, por exemplo, achei pelo menos 146 nomes de usuários e senhas que usei só neste 2019. Tenho certeza de que não é nem a metade do que já criei. É só a ponta do iceberg, que é o problema da identidade no mundo digital.
Quase tudo que fazemos hoje em dia tem um pé no mundo digital. Para que possamos usufruir desses serviços, instantâneos e personalizados, é fundamental que nos identifiquemos a eles. Identidade é um direito fundamental: sem ela, perdemos capacidade de expressão, de acesso a serviços públicos, do usufruto de outros direitos e de seguir em frente com nossas vidas de forma plena. Porém, a revolução digital deixa tudo mais complexo.
A tarefa de dizer para um serviço digital que você é mesmo você, ainda não foi resolvida de maneira simples e padronizada. É um desafio que surge todos os dias, a cada site ou app que acessamos. A solução ainda é a velha dupla de um identificador (nome de usuário, CPF, etc.) e um segredo (senha, pin). É uma solução que apareceu nos anos 1960, mas deixa muito a desejar e não é tão segura.
Se você ainda não sabe, usar a mesma senha em mais de um local é um péssimo hábito. Sistemas digitais podem ter falhas de segurança que acabem expondo as credenciais de acesso. Com isto, milhões de senhas passam a ser públicas e podem ser usadas por quem queira se passar por um daqueles usuários. Nas últimas semanas, ocorreu um dos maiores vazamentos de senhas da história, expondo 2,2 bilhões de credenciais. E mesmo que a credencial de um serviço importante para você não tenha sido exposta, as informações de outros serviços menos importantes podem ser usadas para descobrir sua senha de e-mail. Se for a mesma ou parecida, a coisa fica ainda mais fácil. Com acesso a seu e-mail, um bandido pode se apossar de sua identidade digital e causar dor de cabeça.
Segurança não é o único problema: usabilidade e interoperabilidade também são. À medida que nossas vidas ficam mais dependentes de serviços digitais, é preciso garantir que sejam acessíveis, de forma simples, e que sejam capazes de operar entre si de maneira harmônica e segura. Não faz sentido criar uma nova credencial de acesso para todo serviço que quisermos utilizar. E menos sentido ainda serviços que só funcionam em um tipo de aparelho ou plataforma, ou que não possam ser usados por pessoas com deficiências.
É hora de empreendedores, engenheiros, designers, hackers, governos, legisladores, empresas de tecnologia e acadêmicos sentarem na mesma mesa e acharem uma solução para este problema.
Artigo publicado originalmente na coluna do Manoel Lemos na edição de 20 de Fevereiro de 2019 do Estadão e republicado aqui com a autorização do Estadão. Clique aqui para ler o artigo original.