Benchmarks. Cuidado, armadilhas a frente!
Uma prática comum no mundo empresarial é a realização de “benchmarks” olhando para as empresas que melhor performam. Porém, na atual…
Uma prática comum no mundo empresarial é a realização de “benchmarks” olhando para as empresas que melhor performam. Porém, na atual dinâmica dos negócios, nem sempre isto funciona. Entenda porquê.
Recentemente passei uma semana em Nova Iorque visitando uma série de empresas de um dos segmentos que atuamos aqui na Abril. Vimos empresas de diferentes tamanhos, com diferentes histórias e com diferentes resultados. E, obviamente, vimos muitos exemplos de produtos e serviços que podem servir de inspiração para nossos desafios aqui no Brasil. Como em outras vezes, na hora de trazer o aprendizado para nossa realidade é muito comum focar em O QUE as empresas estão fazendo de certo e/ou errado. Porém acredito que este não seja o melhor caminho e ele pode levar a resultados decepcionantes. Minha opinião é a de que, na maioria das vezes, as respostas que procuramos para nossos desafios de negócios estão muito mais no COMO fazer as coisas e não em quais coisas devam ser feitas.
Esta percepção de que o COMO e mais importante do que O QUE foi algo que desenvolvi com minha experiência ao longo dos últimos dez anos de minha vida profissional e através de meus estudos sobre estratégia e inovação no MIT. Mas foi só no final do ano passado que um dos professores atacou exatamente este problema. Em uma aula sobe como criar empresas que andam em alta velocidade um dos professores começou sua aula dizendo “não façam benchmarks”. Uma declaração de impacto e provocadora que não deve ser levada ao pé-da-letra sem entendermos todo o contexto. Com as explicações que se seguiram a idéia ficou mais clara e estava totalmente relacionada com meu sentimento sobre o dilema entre o COMO e O QUE. O que deixou tudo mais claro foi quando o Prof. Dr. Steve Spear, um dos maiores especialistas do mundo na busca por eficiência operacional de empresas e profundo conhecedor de como a Toyota conseguiu liderar uma das indústrias mais competitivas do mundo, mostrou como as montadoras americanas falharam ao tentar entender e copiar o modelo Toyota de produção. Tudo começou quando a Toyota despontou como uma grande ameaça ao “status quo” da indústria com níveis de performance muito melhores do que o dos americanos. Naquele momento toda a indústria e também a academia se voltaram para como a Toyota organizava e gerenciava suas fábricas e o famoso Sistema Toyota de Produção. Com os primeiros aprendizados vários players tentarem replicar o modelo chegando até a copiar algumas fábricas da Toyota. Porém, os anos passavam e, apesar das iniciativas terem tido algum sucesso em melhorar seus índices de eficiência, a Toyota tinha evoluído ainda mais no mesmo período aumentando a distância dos competidores. Este tipo de iniciativa se repetiu por algumas vezes sempre como mesmo resultado. Tornando uma história longa curta, por questões de espaço, a razão era bem simples: em geral o que se observava nos benchmarks e se tentava copiar nas iniciativas era O QUE a Toyota fazia e não COMO ela fazia. Claro, aqui tudo fica um pouco embaçado porque existe uma linha tênue entre O QUE e o COMO já que em geral se copiavam os processos e processos tratam de como fazer as coisas. Mas a questão importante era O COMO os processos eram desenhados, como a Toyota havia chegado até eles e como eles estavam em constante evolução.
A armadilha dos benchmarks pode ser resumida em dois pontos: o primeiro é o fato de que em geral dedicamos atenção ao O QUE está sendo feito, sejam eles processos, métodos ou produtos. O segundo é que benchmarks avaliam uma pequena janela de tempo, uma fotografia de como as coisas estavam. Ou seja, estamos, nas duas situações, ignorando o que levou a empresa que está sendo avaliada a chegar onde ela se encontra. Desta maneira, copiar o que vimos é mirar numa figura estática e não na dinâmica que gerou a figura. Junte a isto um ambiente empresarial com dinâmicas cada vez mais complexas e com uma velocidade de transformação, em geral trazida pela tecnologia, cada vez maior e o que temos é um universo onde a única constante é a certeza da mudança. Assim, fazer benchmarks sem levar isto em consideração é uma receita para o fracasso já que estaremos sempre alguns passos atrás dos líderes. É hora de prestar mais atenção nas dinâmicas que garantem aos líderes seu principal diferencial competitivo: O COMO fazem as coisas.
Artigo publicado originalmente na edição de Março de 2014 da Revista INFO e republicado aqui com a permissão da Editora Abril.