A Guerra das Plataformas Apenas Começou
Apple, Google, Microsoft, Facebook e vários outros travam batalhas épicas em nossos bolsos, salas de jogos, escritórios e empresas. E o que…
Apple, Google, Microsoft, Facebook e vários outros travam batalhas épicas em nossos bolsos, salas de jogos, escritórios e empresas. E o que eles desejam conquistar é uma parte importante de nossas vidas!
Me lembro de quando tinha uns oito anos de idade e ganhei meu primeiro video game, um Atari 2600, lá em Araguari e morando na casa de meus avós no comecinho dos anos 80. Era uma novidade e os amigos se reuniam para jogar “Missile Command” e “Berzerk”. Depois, outros amigos começaram a comprar seus consoles e o legal era trocar os jogos. Foi a primeira vez que me deparei com a questão de compatibilidade. Alguns compraram outros consoles como o Odyssey e o Intellivision e, para nossa tristeza, os cartuchos não eram compatíveis. Eu não sabia, mas estava bem no meio de uma das primeiras guerras de plataformas digitais.
A verdade é que várias destas guerras foram travadas nos anos 70 e 80. VHS
versus Betamax, Apple II versus TRS-80, PC versus Macintosh, TK 90X versus
MSX, Nintendo NES versus Sega Master System, Game Boy versus Game Gear,
Microsoft Office versus Lotus 1–2–3 e WordPerfect e várias outras. Todas elas
acontecem pela dominância do mercado e são bastante violentas. O que torna as guerra de plataformas particularmente interessantes são as dinâmicas envolvidas nas mesmas. Em geral, uma plataforma atende a dois públicos diferentes: os consumidores no lado da demanda e os produtores no lado da oferta. Voltando ao nosso exemplo dos video games, os consumidores são os jogadores que compram o console e os jogos, e os produtores são os desenvolvedores de jogos.
A primeira dinâmica interessante é a de “lock-in”, ou seja, uma vez que se optou por uma plataforma, os usuários tendem a ficar presos nela. Se você comprou um determinado console de jogos e depois investiu em vários jogos, para ele você só poderá trocar jogos com outros usuários da mesma plataforma e pensará duas vezes antes de mudar de plataforma e jogar fora todo seu investimento. Outra dinâmica é a dos efeitos de rede, ou externalidades como os economistas preferem. Se seus amigos estão optando por uma determinada plataforma, a cada novo amigo que entra nela mais atraente (valiosa) ela se torna para você. E, também, todos usuários já existentes ganham com a chegada de um novo usuário. Esta dinâmica é particularmente importante pois ela é auto-fortalecedora, deixando a rede cada vez mais forte. Quando uma plataforma goza de efeitos de rede fortes ela tende a crescer de maneira muito acelerada e deixar seus competidores para trás.
E hoje, com a Internet e a interconexão quase que contínua dos participantes das novas plataformas digitais estes efeitos se tornam cada vez mais significativos e as batalhas são travadas por recompensas cada vez maiores.
Se você prestar atenção perceberá que volta e meia estamos sendo afetados pela atuais guerras de plataformas. Se você comprou um smartphone Android e já investiu um bocado de grana em aplicativos e acessórios, você pensará duas vezes antes de migrar para um iPhone e ter que construir toda sua biblioteca de aplicativos novamente e de comprar outros acessórios. Se você é usuário de iPhone e organizou sua vida ao redor dos serviços da Apple como o iCloud, ao escolher um tablet você não terá muitas opções senão a de comprar um iPad. É o “lock-in” em suas forma mais básicas, a da compatibilidade e dos custos de troca.
Mas a briga também acontece no lado dos desenvolvedores de aplicações ou produtores de conteúdo. Como as plataformas não são compatíveis entre si e é cada vez mais caro desenvolver aplicações para todas elas, os desenvolvedores devem escolher quais plataformas atacar e, na maioria das vezes, qual atacar primeiro. E a escolha é simples, a plataforma com mais usuários ou mais atividade é a mais atraente. Porém o fato de os aplicativos ficarem disponíveis apenas para a plataforma escolhida a torna ainda mais atraente para novos usuários. E atraindo mais usuários ela fica ainda mais atraente para desenvolvedores. De novo, temos uma dinâmica auto-reforçante. Ou seja, quando uma plataforma atinge este status ela fica cada vez mais importante e cresce cada vez mais rapidamente para desespero de seus concorrentes. É no meio destas batalhas que nos vemos hoje. iOS versus Android, XBOX versus
PlayStation, Google Plus versus Facebook, etc. Como as coisas estão cada vez
mais conectadas o campo de batalha fica ainda mais complexo e nós, usuários,
somos peões neste jogo. Algumas vezes beneficiados pela guerra, que trás
produtos cada vez melhores e mais baratos, mas quase sempre presos na
estratégia destes gigantes gladiadores. O tempo dirá quem será o vencedor.
E você? De que lado está?
Artigo publicado originalmente na edição de Julho de 2012 da Revista INFO e republicado aqui com a permissão da Editora Abril.