A velocidade de disseminação de informações aumentou de maneira brutal
Não podemos negar que a internet tornou-se um dos principais meios para a disseminação de informações. Em 2018, a rede cruzou a marca dos 4 bilhões de usuários. Mais da metade da população mundial está conectada a ela. Este ano, o consumo diário de mídia online passará o de TV. A tendência é que a diferença se acentue nos próximos anos.
Graças às redes sociais e às plataformas de comunicação instantânea, a distância entre as pessoas diminuiu drasticamente. Já, a velocidade de disseminação de informações aumentou de maneira brutal. Quando uma informação — um meme ou uma notícia — cai nesta malha, ela é rapidamente replicada e enviada a outros pontos da rede. Quantas vezes não recebemos a mesma mensagem em diferentes grupos do WhatsApp ou vemos aquela notícia repetidas vezes no Twitter e no Facebook?
Mas não é só a escala e a velocidade da internet que são fatos novos. Ao contrário de seus predecessores — TV e rádio –, a internet está ao alcance de todos. Qualquer pessoa pode usá-la para disseminar suas ideias a milhões. Por um lado, foi possível dar voz a milhares de pessoas que não eram representadas e que agora têm como lutar por seus direitos. Do outro, colocamos um canhão nas mãos dos que usam a desinformação como ferramenta.
Em 2016, na campanha para a eleição presidencial dos EUA, vimos o surgimento do termo “fake news”. Notícias bem elaboradas, com cara de autênticas, mas que não eram verídicas e foram desenhadas para propagar determinada linha de pensamento. Elas sempre existiram, mas nunca alavancadas por uma plataforma como a internet. Com elas, o arsenal da guerra na era da informação ganhou uma arma de alto calibre.
Agora, com a popularização da inteligência artificial, as “fake news” estão passando por um processo bem perigoso. Uma das maneiras de combater as notícias falsas era a de trazer ao público evidências claras da manipulação, como imagens, vídeos e áudios que pudessem tirar qualquer dúvida. Porém, ferramentas de síntese computacional estão dando origem ao que chamamos de “deep fakes”, deixando as “fake news” ainda mais robustas. Com os “deep fakes”, é possível, a partir de imagens e vídeos reais, gerar novas imagens e vídeos que colocam as pessoas do material original fazendo coisas que não ocorreram — a troca do rosto de uma pessoa por outra, a criação de uma fala completamente fictícia e até a de rostos realistas, mas de pessoas que não existem.
Este tipo de manipulação já acontecia. As técnicas, porém, custavam caro, levavam tempo para serem produzidas e a qualidade final não era tão boa. Agora tudo é feito de maneira cada vez mais automática. Todos sabem que já passou da hora de acreditar em tudo o que se lê e recebe pela internet. Agora é bom deixar de lado o “só acredito vendo”.
Artigo publicado originalmente na coluna do Manoel Lemos na edição de 10 de Julho de 2019 do Estadão e republicado aqui com a autorização do mesmo. Clique aqui para ler o artigo original.